Nocturnal Hypoxemia Associates With Symptom Progression and Mortality in Patients With Progressive Fibrotic Interstitial Lung Disease

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 14 abr 2025

Nocturnal Hypoxemia Associates With Symptom Progression and Mortality in Patients With Progressive Fibrotic Interstitial Lung Disease


Título do Estudo


Nocturnal Hypoxemia Associates With Symptom Progression and Mortality in Patients With Progressive Fibrotic Interstitial Lung Disease

 

Fonte


Myall KJ, West AG, Martinovic JL, Lam JL, Roque D, Wu Z, Maher TM, Molyneaux PL, Suh ES, Kent BD. Nocturnal Hypoxemia Associates With Symptom Progression and Mortality in Patients With Progressive Fibrotic Interstitial Lung Disease. Chest. 2023 Nov;164(5):1232-1242. doi: 10.1016/j.chest.2023.05.013. Epub 2023 May 13. PMID: 37187434.

 

Introdução


É bem estabelecido que os distúrbios ventilatórios do sono afetam desfechos cognitivos, cardiovasculares e de qualidade de vida na população geral. No entanto, a contribuição desses distúrbios na progressão das doenças pulmonares intersticiais fibróticas (DPI-F) ainda não é clara. Existem poucos dados, em sua maioria de estudos com pequenas populações, que investigam principalmente a apneia obstrutiva do sono (AOS), com pouca atenção ao tempo de hipoxemia noturna (HN). Este estudo investiga se a presença de HN, AOS ou ambos contribuem para a progressão das DPI-F.

 

Métodos


Pacientes com DPI-F (incluindo, mas não exclusivamente: fibrose pulmonar idiopática, pneumonite intersticial não específica, pneumonite por hipersensibilidade crônica, pneumonia em organização e formas não classificáveis) foram selecionados por especialistas (equipe multidisciplinar) de dois centros (Guy’s and St. Thomas’ e Royal Brompton) entre dezembro de 2018 e dezembro de 2020. Foram excluídos pacientes que previamente apresentassem colagenoses ou sarcoidose, hipoxemia em repouso ou diurna com indicação de oxigênio contínuo, distúrbios respiratórios do sono, sinais de enfisema ou VEF1/CVF < 0,7; e os incapazes de preencher questionários em inglês.

Os pacientes passaram por polissonografia tipo III com o dispositivo de quatro canais WatchPAT 200 (Itamar Medical), para medir saturação periférica de O2, frequência cardíaca, actigrafia e tonometria arterial. A HN foi definida como tempo de sono com saturação periférica < 90% (T90) ≥ 10%. A AOS foi definida como índice de apneia-hipopneia(IAH) ≥ 15 eventos/h. Além disso, foram avaliadas CVF, DLCO e foi realizado teste de caminhada de 6 minutos. O rastreio de hipertensão pulmonar (HP) foi feito com ecocardiograma transtorácico e/ou NT pro-BNP.

O objetivo primário foi avaliar a mudança na qualidade de vida através do questionário King’s Brief Interstitial Lung Disease (KBILD), sendo quanto menor a população, menor a qualidade de vida. Foi considerada significativa uma diferença de 5 pontos entre o início e aos 12 meses. Os objetivos secundários foram os impactos na função pulmonar e na mortalidade após 12 meses.

 

Resultados


Cento e dois participantes foram incluídos, tendo 11 falecidos durante o estudo. A média de idade foi 73 anos, com IMC médio de 28,7 kg/m².

Os pacientes foram divididos em quatro subgrupos: com HN e AOS, sem HN e com AOS, com HN e sem AOS, e sem HN e sem AOS. Não houve diferenças significativas entre os grupos em relação a tabagismo, uso de antifibróticos ou imunossupressores, risco de HP, valores basais de KBILD, DLCO, CVF e teste de caminhada de 6 minutos.

O T90 foi significativamente maior nos grupos com AOS em relação aos sem AOS (13.8% vs 4.17%; p = 0.02); e o IAH foi significativamente maior nos grupos com HN em relação aos sem HN (40.1/h vs 24.7/h; p = 0.001). Sete pacientes (6,9%) apresentaram HN isolada. O declínio no KBILD foi maior nos grupos com HN (-11,3 vs -6,7; p = 0,005), enquanto não houve diferenças significativas nos grupos com AOS isolada (-2,4 vs -3,8; p = 0,30).

Os 11 pacientes que faleceram apresentaram CVF inicial menor e T90 maior em relação aos demais. Não houve diferença significativa no IAH.

O risco de mortalidade foi significativamente maior no grupo com HN (HR 8,21; p < 0,001), mas não no grupo com AOS isolada (HR 2,78; p = 0,19). Não houve diferença no risco de mortalidade no grupo com HN e AOS (HR 0,56; p = 0,54).

Usou-se o modelo de regressão de Cox para investigar a correlação entre risco de morte antes de 12 meses e presença de HN ou AOS. O risco de morte na presença de HN foi de 11.7 (p = 0,003) em comparação com a ausência de HN. Não foi vista associação entre risco de morte antes de 12 meses e presença ou ausência de AOS (HR = 1,04; p = 0,97).

 

Conclusões


A AOS, na ausência de HN, não resultou em maiores declínios no KBILD, em comparação com os grupos com HN, sugerindo que a presença de HN, e não de AOS, prediz maior declínio na qualidade de vida. Não houve diferenças significativas em relação à função pulmonar após 12 meses, alinhando-se a metanálises anteriores. A presença de AOS sem HN não afetou a mortalidade. Resultados de estudos prévios que associaram maior mortalidade às DPI-F em pacientes com AOS podem estar relacionados à hipoxemia prolongada mais do que aos efeitos da fragmentação do sono, como a hiperativação simpática.

 

Limitações e mensagens do artigo


O dispositivo utilizado nas polissonografias domiciliares não inclui cinta abdominal, o que não avalia apneias de origem central. Além disso, não foi aprovado para uso em pacientes com DPI-F. O ponto de corte de T90 na definição de HN não tem consenso na literatura, e a definição de HN no estudo (T90 ≥ 10%) pode ter superestimado a prevalência. Parte do estudo foi realizada durante a pandemia, o que resultou em perdas no seguimento, especialmente nos testes de função pulmonar. Não foi avaliado o impacto da hipercapnia em pacientes com hipoventilação alveolar. O padrão ouro para avaliação de HP (cateterismo de ventrículo direito) não foi utilizado.

Apesar das limitações, o estudo reforça a associação entre HN e perda de qualidade de vida e maior risco de mortalidade nas DPI-F, apoiando a realização de rastreio de HN e AOS. Além disso, os dados sobre o benefício da pressão positiva e da suplementação de oxigênio noturno são limitados, o que abre caminho para novas pesquisas sobre essas opções terapêuticas.

 

 

Dr. Lucas Perlingeiro Neto é pneumologista e médico residente em Medicina do Sono no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle.

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