Donor to recipient age matching in lungtransplantation: A European experience

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 21 mar 2025

Donor to recipient age matching in lungtransplantation: A European experience


Título do Estudo


Donor to recipient age matching in lungtransplantation: A European experience

 

Fonte


The Journal of Heart and Lung Transplantation (JHLT), estudomulticêntricorealizado no ReinoUnido e na França.

 

Introdução


O transplante pulmonar é a única opção terapêutica para muitas doenças pulmonares terminais, mas a escassez de órgãos ainda é um grande desafio, mundial.
Nos últimos anos, a idade média dos doadores tem aumentado devido ao envelhecimento da população, especialmente na Europa, o que levanta preocupações sobre o impacto da idade do doador nos desfechos pós-transplante.

Enquanto nos Estados Unidosa maioria dos transplantes ocorre com pulmões de doadores mais jovens, na Europa há uma tendência crescente ao uso de órgãos de doadores mais velhos. Entretanto, a influência da idade do doador e da compatibilidade etária entre doador e receptor nos desfechos pós-transplante ainda não é totalmente compreendida.

No Brasil, diversos centros usam um limite de idade baixo (55-60 anos) para aceitação do órgão ofertado, o que reduz a oferta de órgãos já escassa no país.

Este estudo teve como objetivo avaliar o impacto da idade do doador nos desfechos do transplante pulmonar e analisar se a diferença de idade entre doadores e receptores influencia a sobrevida e a função do enxerto.

 

Métodos


Foi realizado um estudo retrospectivo multicêntrico, incluindo 4.696 transplantes pulmonares adultos realizados no Reino Unido (2010-2019) e na França (2010-2021). Os dados foram obtidos de registros nacionais desses países.

Os receptores foram divididos em três grupos etários:

– Jovens: ≤30 anos
– Meia-idade: 31–59 anos

– Idosos: ≥60 anos

Os doadores foram classificados em dois grupos principais:

– Jovens: <60 anos
– Idosos: ≥60 anos (com análises adicionais para doadores ≥65 anos e ≥70 anos)

Os principais desfechos avaliados foram:

– Sobrevida pós-transplante em 1 e 5 anos
– Incidência de disfunção primária do enxerto (PGD3), que representa disfunção do enxerto de maior gravidade nas primeiras 72 horas pós transplante,
– Impacto da compatibilidade etária entre doador e receptor

Foram utilizadas análises estatísticas, incluindo regressão logística para PGD3, curvas de Kaplan-Meier para sobrevida e propensity score matching para minimizar viés e diferenças entre os grupos.

 

Resultados


Sobrevida pós-transplante e impacto da idade do doador

– Não houve diferença estatística significativa na sobrevida em 1 e 5 anos em função da idade do doador.

Para receptores jovens (≤30 anos):

—- Doadores <60 anos: 87% (1 ano) e 70% (5 anos)
—- Doadores ≥60 anos: 85% (1 ano) e 68% (5 anos) (p=0,3)

Para receptores idosos (≥60 anos):

—- Doadores <60 anos: 77% (1 ano) e 55% (5 anos)
—- Doadores ≥60 anos: 78% (1 ano) e 53% (5 anos) (p=0,7)

Disfunção primária do enxerto (PGD3)

—- Receptores jovens que receberam pulmões de doadores ≥60 anos apresentaram maior risco de PGD3 (OR: 1,87, p=0,02).
—- Em receptores de meia-idade e idosos, a idade do doador não teve impacto na ocorrência de PGD3.

Uso de pulmões de doadores ≥70 anos

—- Não houve diferença significativa na sobrevida em comparação com doadores mais jovens.
—- Sobrevida em 1 ano: 81% (≥70 anos) vs. 78% (<70 anos), p=0,5.
—- Sobrevida em 5 anos: 61% vs. 64%, p=0,5.

Compatibilidade etária entre doador e receptor

– Não houve vantagem de sobrevida ao transplantar pulmões de doadores jovens para receptores idosos.
– O uso de doadores mais velhos foi mais frequente para receptores em lista de alta prioridade, indicando que a urgência pode influenciar a decisão de aceitar órgãos de doadores mais velhos.

 

Conclusões


O estudo demonstrou que a idade do doador não compromete a sobrevida pós-transplante, mesmo quando os pulmões são transplantados para receptores jovens. Embora esses receptores apresentem um risco maior de PGD3 ao receber órgãos de doadores mais velhos, isso não afetou a sobrevida a médio prazo.

Além disso, pulmões de doadores ≥70 anos podem ser utilizados com segurança, sem prejuízo na sobrevida dos receptores. Os achados sugerem que os critérios tradicionais de aceitação de órgãos baseados na idade do doador podem ser flexibilizados para aumentar a disponibilidade de enxertos.

Os resultados reforçam que a idade isolada do doador não deve ser critério para recusa de pulmões para transplante, desde que outros parâmetros de qualidade do órgão sejam atendidos.

 

Limitações e mensagens do artigo


– Estudo retrospectivo, baseado em registros nacionais do Reino Unido e França, sujeito a viés de coleta de dados.

– Não foi possível avaliar o impacto de longo prazo na incidência de CLAD (disfunção crônica do enxerto pulmonar), pois muitos pacientes ainda estavam vivos ao final do período analisado.

– O histórico tabágico dos doadores não foi detalhado, o que pode ter influenciado os resultados.

– Tamanho da amostra robusto e análise multicêntrica aumentam a confiabilidade dos achados.

– O estudo sugere que a idade do doador, por si só, não deve ser um fator de exclusão para transplante pulmonar, especialmente diante da necessidade de ampliar a oferta de órgãos e reduzir a mortalidade na lista de espera.

– Com esse estudo, deve-se reavaliar no nosso país, o limite de idade para recusa de órgãos, principalmente em centros com escassez de órgãos e alta mortalidade em fila,

 

 

Dr. Gabriel Santiago – Coordenador nacional pneumologia Rede D’Or – Coordenador clínico do programa de transplante pulmonar – Rede D’Or – Médico pneumologista UERJ

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