Publicado em 16 mar 2025
Novas recomendações de espirometria da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – Atualização 2024
Título do Estudo
Novas recomendações de espirometria da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – Atualização 2024
Fonte
Albuquerque AL, Berton DC, Campos EV, Queiroga-Júnior FJ, Santana AN, Wong BD, Batista DR, Melo FX, Didier-Neto FM, Barros JA, Salge JM. Novas recomendações de espirometria da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia-atualização 2024. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2025 Jan 20;50:e20240169.
Introdução
As últimas recomendações da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia sobre aspectos técnicos e interpretação dos testes de função pulmonar foram publicadas em 2002. Desde então diversos artigos e guidelines internacionais foram publicados tornando necessária a atualização das diretrizes brasileiras para incorporação das novas evidências em espirometria, aplicando-as a realidade nacional.
Métodos
Foram realizadas reuniões consecutivas para discussão dos principais tópicos em função pulmonar. Cada tema foi distribuído entre grupos de participantes orientados por um coordenador para avaliar a literatura científica e propor uma recomendação, a qual foi discutida em detalhes até a publicação dessa diretriz.
Principais recomendações
A espirometria é um exame extremamente versátil, utilizado principalmente para auxílio no diagnóstico e monitoramento de patologias pulmonares. A diretriz reforça a necessidade de correlação entre os achados espirométricos e os dados clínicos de cada paciente.
Em relação aos critérios de aceitabilidade, mantém-se a recomendação para obtenção idealmente de 3 curvas aceitáveis em até 8 tentativas. O volume extrapolado deve ser idealmente menor ou igual a 100ml ou 5% da CVF (o que for maior); indo ao encontro da diretriz da ATS de 2019 que também recomenda o mesmo valor. Está mantida a recomendação da diretriz de 2002 de se fazer inspeção e seleção dos esforços nas curvas de fluxo-volume, idealmente com tempo para atingir o PFE ≤ 150ms.
Em relação aos valores de referência, a diretriz reforça a escolha pelas equações nacionais em detrimento das equações propostas pela GLI, além do uso do limite inferior da normalidade no lugar do Z score para avaliação da faixa de normalidade. Para caracterização dos distúrbios obstrutivos está mantida a recomendação de utilizar a relação VEF1/CVF, porém utilizando o limite inferior da normalidade pré broncodilatador no lugar do limite fixo de 0.7. A classificação de gravidade, a semelhança da diretriz de 2002 segue sendo feita através do percentual do predito.
Para caracterizarmos a prova broncodilatadora como positiva, a diretriz traz a seguinte recomendação: Variação significativa do VEF1 ou CVF ao uso de broncodilatador em relação ao previsto ≥ 7% em exames alterados e ≥ 10% para exames classificados como normais no teste pré-BD.
Discussão
A diretriz brasileira atual traz novos conceitos e atualiza as recomendações da diretriz de 2002. Em algumas recomendações ela se aproxima das diretrizes internacionais, como na redução do volume extrapolado para 100ml e na utilização da variação em relação ao previsto na prova broncodilatadora. Por outro lado, a escolha pela utilização das equações nacionais vai de encontro ao proposto pela ATS/ERS com a justificativa principal de que o limite inferior da normalidade para a relação VEF1/CVF nas equações da GLI é significativamente menor, o que poderia subestimar o diagnóstico de doenças obstrutivas na população Brasileira, além da preferência pelo limite inferior da normalidade em detrimento ao Z-score. As justificativas para tal decisão são plausíveis na diretriz, mas podem impactar na forma como o Brasil se posiciona em termos de publicação e pesquisa internacionais, uma vez que utilizaremos valores de referência distintos daqueles recomendados pelas principais diretrizes internacionais.
Conclusão
A espirometria é uma ferramenta diagnóstica importante na pratica clínica de qualquer paciente com doença respiratória. É fundamental que ela seja interpretada dentro de um contexto clínico adequado. A opção pela utilização de equações nacionais se mantém nessa nova diretriz, porém é importante que novos estudos sejam realizados a fim de sempre atualizarmos os valores de referência.
Dr Victor da Costa D’Elia – Residente de Pneumologia da UERJ