Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Publicado em 30 jul 2020

BCG- Uma antiga vacina pode combater o novo Coronavirus (SARS-COV 2)?

Dr Jorge Eduardo Pio, responsável pela Comissão de Tuberculose da SOPTERJ, escreve sobre estudos que já demonstraram que a vacinação pelo BCG ajuda a eliminar várias infecções inclusive estafilococos, candidíase, febre amarela, e influenza (gripe). Este conhecimento é a base para as pesquisas que estão em andamento para verificar se existe um papel p ara vacina BCG no combate a COVID-19.

Desde o início da pandemia de COVID-19 surgiu a hipótese de que a variabilidade das taxas de infecção e mortalidade entre os diferentes países poderia estar relacionada com a prevalência de vacinação pela vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin), esta hipótese ganhou força no meio acadêmico após a publicação de dois artigos que correlacionaram os dados de mortalidade e morbidade com a presença de políticas nacionais de vacinação com BCG. Posteriormente uma dezena de artigos semelhantes foi publicada, contudo a metodologia aplicada nestes estudos utilizou os dados agregados, já disponíveis nos sistemas de informação dos departamentos de saúde, técnica muito útil para levantar uma hipótese plausível de forma rápida, porem pouco robusta para confirmar uma correlação, são estudos que não consideram outros fatores que participam e interferem na relação e são chamados estudos ecológicos.

Desde os anos 70 do século 20 observa-se que vacinas de bactérias vivas atenuadas como a BCG e vacina anti-pólio oral (OPV) foram capazes de estimular o sistema imunológico das pessoas contra as infecções causadas pelo m. tuberculosis (bacilo da tuberculose) e o meningococo assim como também contra outras infecções inespecíficas por meio de liberação de citocinas e aumento da quantidade de células de defesa do tipo neutrófilo. Este fenômeno é chamado de “imunidade treinada” e estudos já demonstr aram que a vacinação pelo BCG ajuda a eliminar várias infecções inclusive estafilococos, candidíase, febre amarela, e influenz a  (gripe). Este conhecimento é a base para as pesquisas que estão em andamento para verificar se existe um papel para vacina BCG no combate a COVID-19.

No Brasil cinco estudos estão em andamento:

Tendo em vista que o prazo para a disponibilidade de uma vacina específica deve ser bastante longo a possibilidade de utilizarmos uma imunoterapia já conhecida e disponível se torna extremamente atraente.

Referencias:

Correlation between universal BCG vaccination policyand reduced morbidity and mortality for COVID-19: anepidemiological study.

Miller A, Reandelar MJ, Fasciglione K, Roumenova V, Li Yan, Otazu GH. 2020 medRxiv doi:10.1101/2020.03.24.20042937.

Considering BCG vaccination to reduce the impact of COVID-19 www.thelancet.com Vol 395 May 16, 2020

Published Online April 30, 2020 https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31025-4

COVID-19 and Bacillus Calmette-Guérin: What is theLink? Hegarty PK, et al.

Eur Urol Oncol (2020), https://doi.org/10.1016/j.euo.2020.04.001

Stop playing with data: there is no sound evidence thatBacille Calmette-Guérin may avoid SARS-CoV-2 infection (for now)

Matteo Riccò, Giovanni Gualerzi, Silvia Ranzieri, Nicola Luigi Bragazzi

Acta Biomed 2020; Vol. 91, N. 2: 207-213 DOI: 10.23750/abm.v91i2.9700

Can existing live vaccines prevent COVID-19?

Konstantin Chumakov, Christine S. Benn, Peter Aaby, Shyamasundaran Kottilil&nbsp ; and Robert Gallo Science 368 (6496), 1187-1188. DOI: 10.1126/science.abc4262