Publicado em 12 maio 2021
12 de maio, Dia Internacional da Enfermagem
Em entrevista com Janaína Leung, responsável pelo Departamento de Enfermagem da SOPTERJ ela ressalta que “os aplausos, os abraços, o reconhecimento sobre sua abrangência no cuidado, que projetou e expandiu essa profissão, são fundamentais, mas é necessário que aspectos como segurança no trabalho, com a disponibilização de equipamentos de proteção individual (EPI), jornada de trabalho e piso salarial, sejam discutidos”
Enfermeiros no Brasil: são 2,4 milhões de profissionais que atuam na linha de frente, foram 800 enfermeiros mortos por covid-19 no país (recorde mundial de óbitos na pandemia até o ano passado – dados COFEN). O Conselho Federal e Enfermagem lança hoje uma campanha pelo aumento do piso salarial, congelado há 20 anos, e exigência do Congresso celeridade na votação do projeto de lei 2564/2020 que fixa a jornada de trabalho para a categoria em seis horas diárias.
1 – O que é possível comemorar nesse Dia Internacional da Enfermagem, em meio a pandemia?
Janaína Leung – Qualquer comemoração é inapropriada no atual momento em que vivemos, com tantas perdas, inclusive de profissionais. Porém, devemos aproveitar o Dia Internacional da Enfermagem para agradecer aos profissionais de Enfermagem que estão na linha de frente nesta Pandemia, que deixam seus medos, inseguranças e principalmente seus familiares para cuidar do outro. Precisamos deste momento, para refletir sobre a Enfermagem, e sua importância diante da sociedade. Os aplausos, os abraços, o reconhecimento sobre sua abrangência no cuidado, que projetou e expandiu essa profissão, são fundamentais, mas é necessário que aspectos como segurança no trabalho, com a disponibilização de equipamentos de proteção individual (EPI), jornada de trabalho e piso salarial, sejam discutidos. Em algumas unidades de saúde, o dimensionamento de pessoal é inadequado, com sobrecarga dos profissionais e como assistimos várias situações em que houve falta de EPI colocando o profissional em risco.
2 – A pandemia deixou claro a importância estratégica da enfermagem, e o Brasil, segundo o COFEN, apresenta um trágico número desses profissionais que faleceram de COVID.
Janaína Leung – Infelizmente, no Brasil, esse reconhecimento não representou uma melhoria das condições de trabalho. De acordo com o COFEN o Brasil registrou desde o início da Pandemia, em março de 2020, um número alto de mortes de profissionais pela COVID-19, entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, com impacto direto nas suas famílias, já que em algumas situações estes profissionais, são a única fonte de renda familiar. Podemos ainda destacar os profissionais que por medo der ser fonte de contaminação, necessitaram se afastar do convívio familiar, causando dor e adoecimento emocional.
A Enfermagem ainda não tem voz, ainda busca aprovação do piso salarial e jornada de trabalho de 30 horas, para que possa reduzir a exaustão no trabalho e oferecer o cuidado com maior segurança e qualidade.
3 – A enfermagem não tem aumento real há quase 20 anos, é isso?
Janaína Leung – A questão salarial na Enfermagem é uma luta de muitos anos. Os presidentes dos Conselhos Regionais se reuniram com os senadores para discussão da PL 2.564/2020 referente ao piso salarial e jornada de trabalho de 30 horas, mas, infelizmente, não houve definição. É importante que tenhamos avanço nesta questão, muito debatida, com evolução lenta na tramitação. Com a definição do piso salarial e da carga horária, o profissional será valorizado, podendo reduzir sua exaustão provocada pelas jornadas extras de trabalho, e melhorar as condições para desenvolvimento do cuidado ao outro.
4 – Como ficou a situação dos enfermeiros que trabalharam no Hospital de campanha no ano passado? Conseguiram receber os salários?
Janaína Leung – Esta é uma pergunta que representa a situação não só dos Profissionais de Enfermagem, mas de todas as categorias que trabalham diretamente no cuidado em saúde, e dos que são a rede de apoio à saúde, como maqueiros, pessoal da limpeza, recepcionistas, motoristas de ambulância entre outros. Há um desrespeito a quem cuida de vidas, que dependem diretamente ou indiretamente da atenção, do conhecimento técnico-científico, do toque, do olhar, da compreensão do processo de adoecimento e recuperação da saúde, do cuidado estendido aos familiares.
Atrasos ou falta no pagamento, deixam esses profissionais sem segurança e perspectivas. Há relatos de profissionais de enfermagem que receberam o pagamento, mas ainda aguardam receber os direitos trabalhistas. Há nesse contexto, uma absoluta falta de compromisso com a vida, tanto do paciente quanto do trabalhador de saúde.
A pandemia ensina que é preciso repensar o que desejamos para o nosso país daqui para frente. O maior valor que possuímos é a vida, e enquanto não houver modificações sérias nas politicas que norteiam a saúde e a educação continuaremos assistindo, inertes, as mortes acontecerem.
Por fim, não menos importante, parabenizo todos os meus colegas que engradecem a profissão e me ensinam diariamente sobre a enfermagem, nas suas lutas diárias, com suas histórias de vida, que saem cedo das suas casas e deixam seus familiares para exercerem, com amor e dedicação, a profissão que escolheram.