Publicado em 4 nov 2023
Perioperative Durvalumab for Resectable Non–Small-Cell Lung Cancer
Título do Estudo
Perioperative Durvalumab for Resectable Non–Small-Cell Lung Cancer
Fonte
J.V. Heymach, D. Harpole, T. Mitsudomi, J.M. Taube, G. Galffy, M. Hochmair, T. Winder, R. Zukov, G. Garbaos, S. Gao, H. Kuroda, G. Ostoros, T.V. Tran, J. You, K.-Y. Lee, L. Antonuzzo, Z. Papai-Szekely, H. Akamatsu, B. Biswas, A. Spira, J. Crawford, H.T. Le, M. Aperghis, G.J. Doherty, H. Mann, T.M. Fouad, and M. Reck, for the AEGEAN Investigators October 23, 2023, at NEJM.org. DOI: 10.1056/NEJMoa2304875.
Introdução
A imunoterapia tanto no cenário neoadjuvante quanto adjuvante pode melhorar os resultados oncológicos em pacientes ressecáveis com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC). Quando combinados em ambos cenários, podem trazer benefícios e resultados superiores a longo prazo.
Métodos
Foi distribuído aleatoriamente pacientes com CPNPC ressecável (estágio II a IIIB [N2] 8ª ed.) para receber quimioterapia à base de platina mais durvalumab ou placebo administrado por via intravenosa a cada 3 semanas (4 ciclos ) antes da cirurgia, seguido de durvalumab adjuvante ou placebo por via intravenosa a cada 4 semanas (12 ciclos).
A randomização foi estratificada de acordo com o estágio da doença (II ou III) e expressão do ligante PD-L1 (≥1% ou <1%). Os desfechos primários foram sobrevida livre de eventos e resposta patológica completa.
Resultados
Do total de 802 pacientes randomizados, 400 receberam durvalumabe e 402 receberam placebo. A sobrevida livre de eventos foi significativamente maior com durvalumab do que com placebo. Na análise de 12 meses, foi observada sobrevida livre de eventos em 73,4% dos pacientes que receberam durvalumabe (IC 95%, 67,9 a 78,1), em comparação com 64,5% dos pacientes que receberam placebo (IC 95%, 58,8 a 69,6). A incidência de resposta patológica completa foi significativamente maior com durvalumab do que com placebo (17,2% vs. 4,3% na análise final; diferença, 13,0 pontos percentuais; IC 95%, 8,7 a 17,6; P<0,001 na análise interina dos dados de 402 pacientes). A sobrevida livre de eventos e o benefício da resposta patológica completa foram observados independentemente do estágio e da expressão de PD-L1. Eventos adversos de grau máximo 3 ou 4 ocorreram em 42,4% dos pacientes com durvalumabe e em 43,2% com placebo. Os pacientes (62) com alterações de EGFR ou ALK foram excluídos das análises na população com intenção de tratar.
Conclusões
Em pacientes com CPNPC ressecável, o durvalumabe perioperatório associado à quimioterapia neoadjuvante foi associado a uma sobrevida livre de eventos e a uma resposta patológica completa significativamente maior do que a quimioterapia neoadjuvante isoladamente, com um perfil de segurança e toxicidade medicamentosa semelhantes.
Limitações e Mensagens do Artigo
Trata-se de mais um importante estudo fase 3 avaliando a estratégia de utilização de imunoterapia para pacientes com CNPCP ressecáveis, dessa vez incluindo o cenário neoadjuvante e adjuvante no mesmo paciente. A presença de doença localmente avançada maior que o habitual (T3, T4, N2 múltiplas estações e estádio IIIB) é um fator que merece destaque, não sendo impeditivo para o tratamento cirúrgico desde que definido previamente sua ressecabilidade. A adição do anti-PD1 durvalumabe foi positivo e nitidamente demonstrou melhora nos desfechos clínicos, sem aumentar significativamente a toxicidade ou complicações cirúrgicas. Um número quase idêntico de pacientes conseguiram realizar a cirurgia em ambos os braços, sugerindo que a inclusão da imunoterapia neoadjuvante não reduziu o número de pacientes que concluiram a cirurgia.
Das limitações e preocupações futuras, destaco o alto custo financeiro envolvido na imunoterapia combinada antes e depois da cirurgia; a importância do entendimento de qual paciente de fato se beneficiará do tratamento adjuvante quando presença de resposta patológica completa; o conhecimento de biomarcadores preditivos de resposta oncológica pra melhor seleção de pacientes, assim como os dados de sobrevida global, que serão necessários no futuro para compreender o impacto total desta abordagem no tratamento do CPNPC ressecável.
Gustavo Gattás é cirurgião torácico membro titular da sociedade brasileira de cirurgia torácica (SBCT), membro da sociedade brasileira de cirurgia oncológica (SBCO) e cirurgião torácico “staff” do Instituto Nacional do Câncer (INCA).