Tabagismo autorreferido e monóxido de carbono exalado no acompanhamento preventivo secundário após eventos coronarianos: nossos pacientes dizem a verdade?

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 30 dez 2024

Tabagismo autorreferido e monóxido de carbono exalado no acompanhamento preventivo secundário após eventos coronarianos: nossos pacientes dizem a verdade?


Título do Estudo


Tabagismo autorreferido e monóxido de carbono exalado no acompanhamento preventivo secundário após eventos coronarianos: nossos pacientes dizem a verdade?

 

Fonte


Kaldal A, Tonstad S, Jortveit J. Self-reported smoking status and exhaled carbon monoxide in secondary preventive follow-up after coronary heart events: Do our patients tell the truth?. Tobacco Prevention & Cessation. 2024;10(September):41. doi:10.18332/tpc/191843.

 

Introdução


O tabagismo é frequentemente avaliado por autorrelato. Alguns pacientes se declaram falsamente não fumantes. Isso pode levar a uma superestimação das taxas de cessação do tabagismo. Medidas objetivas do tabagismo também podem ser úteis para melhorar o manejo clínico e o aconselhamento de pacientes com dificuldades para parar de fumar.

 

Objetivos


Acompanhamento hospitalar e na saúde primária, após infarto do miocárdio, intervenção coronária percutânea (ICP) e cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM), comparando-se o status de tabagismo auto-relatado e o medido objetivamente [monóxido de carbono (COe)]. Avaliou-se o alcance de metas de tratamento para prevenção secundária após tais eventos cardiológicos em pacientes com eCO elevado afirmando terem cessado o tabagismo em comparação com pacientes que admitiram-se tabagistas.

 

Métodos


Os dados para esta subanálise foram recuperados de um ensaio clínico randomizado aberto no Hospital Sorlandet, Arendal, Noruega, no período de 2007 a 2022.

Os fumantes foram fortemente aconselhados a parar de fumar durante a internação inicial e em todas as consultas ambulatoriais. A terapia de reposição de nicotina (TRN) foi oferecida durante a internação hospitalar, e a continuação da TRN ou um ciclo de 12 semanas de vareniclina após a alta foi aconselhada.

Os pacientes randomizados para o grupo de atenção primária foram acompanhados por médicos de família em relação às medidas preventivas secundárias cardiovasculares.

As metas de tratamento preventivo secundário aderiram às últimas diretrizes de ESC disponíveis e foram as seguintes: não fumar, pressão arterial <140/90 mmHg, colesterol LDL <1,8 mmol/L (<2,5 mmol/L até 2017, <1,4 mmol/L a partir de 2020), índice de massa corporal (IMC) <25 kg/m2, uso diário de terapia hipolipemiante, uso diário de ácido acetilsalicílico e atividade física de intensidade moderada ≥150 min semanalmente

A concentração de COex (ppm) foi medida em cada visita do estudo com um testador de CO (Smokerlyzer, Bedfont, Reino Unido) e arredondada para o número inteiro mais próximo, com valores de 0 a 5 ppm interpretados como proibido fumar e ≥6 ppm sugestivos de tabagismo

O desfecho primário foi o tabagismo autorreferido em pacientes com COex ≥6 ppm um ano após o evento coronariano índice (IM ou CRM / ICP programada). O desfecho secundário foi o alcance das metas de tratamento de prevenção secundária para fatores de risco cardiovascular e uso de medicamentos um ano após o evento coronariano índice para pacientes com COex ≥6 ppm e relato de não fumante versus tabagismo.

 

Resultados


Entre os 1291 pacientes incluídos, 358 (28%) relataram tabagismo e 511 (40%) pacientes relataram tabagismo prévio no evento índice (IM, ICP ou CRM). Após um ano, 127 (35%) fumantes iniciais disseram ter cessado oo tabagismo. Um total de 258 (20%) pacientes relatou tabagismo atual e Co2 elevada foi encontrada em 1 em cada 5 participantes um ano após o evento índice. Um quarto desses pacientes referiu não fumar.

A falsa declaração de não fumar não tem consequências negativas ou positivas diretas ou imediatas no acompanhamento preventivo secundário após um evento cardiaco. As razões pelas quais alguns pacientes provavelmente mentem sobre o uso do tabaco não são claras. O constrangimento por não conseguir parar de fumar pode ser uma das várias explicações possíveis.

Não se verificou diferenças no alcance das metas de tratamento para prevenção secundária em pacientes com eCO elevada que relataram não fumar versus pacientes que relataram tabagismo. Exceto para as metas de pressão arterial, não se identificou diferenças no alcance das metas de tratamento para prevenção secundária em pacientes com eCO elevada que relataram não fumar versus pacientes que relataram tabagismo.

 

Limitações


Não foi pesquisada história de tabagismo passivo, o padrão de tabagismo, ao tempo de último cigarro fumado ou à presença de doença pulmonar obstrutiva crônica ou asma. Esses fatores podem influenciar os níveis de COex e podem diminuir a sensibilidade e a especificidade do monitoramento do CO. A concentração de CO exalado reflete a exposição ao tabagismo durante um intervalo de tempo limitado e pode não fornecer estimativas precisas se houver uma interrupção no tabagismo. O fabricante relata uma precisão de ±2 ppm (5%), o que pode contribuir para a classificação incorreta de não fumantes com valores limítrofes (próximos a 6 ppm) de eCO. As análises estatísticas não foram ajustadas para testes múltiplos. Além disso, o estudo foi limitado a um hospital e a um número limitado de participantes.

 

Conclusão


Alguns pacientes parecem não relatar seu tabagismo corretamente. Embora nem todos os estudos de cessação do tabagismo possam incluir medidas objetivas de cessação, a interpretação dos resultados de tais estudos exigirá levar em consideração as limitações do autorrelato. Este estudo destaca a necessidade de medidas objetivas para a cessação do tabagismo, tanto em estudos clínicos quanto na prática clínica.

 

Dr. Carlos Leonardo Carvalho Pessôa – Presidente Sopterj – Prof. Adjunto de Pneumologia da Universidade Federal Fluminense

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