Publicado em 28 mar 2020
A Trial of Lopinavir–Ritonavir in Adults Hospitalized with Severe Covid-19
Título do Estudo
A Trial of Lopinavir–Ritonavir in Adults Hospitalized with Severe Covid-19
Fonte
The New England Journal of Medicine, March 18, 2020. DOI: 10.1056/NEJMoa2001282.
Desenho do Estudo
Estudo randomizado, controlado, aberto, envolvendo pacientes adultos hospitalizados com infecção SARS-COV-2 confirmada (causada pelo Coronavirus 19). OS critérios de inclusão no estudo foram os pacientes com saturação de Oxigênio < 94% ou relação pO2/FiO2 < 300 mmHg. Foram aleatoriamente distribuídos numa relação 1:1, para receber lopinavir 400 mg + ritonavir 100 mg 2 vezes ao dia por 4 dias, associado a cuidados de suporte ou para receber somente cuidados de suporte usual. O desfecho primário foi o tempo para obter melhora clínica, definido como o tempo desde a randomização até melhora de dois pontos numa escala específica (de 7 pontos) ou então a alta hospitalar, o que ocorresse primeiro.
Mensagens do Artigo
Com a epidemia da SARS em 2003 o fármaco ritonavir foi testado contra o SARS-CoV por ter atividade inibitória in vitro. No estudo atual foram incluídos 199 pacientes, no período de 18 de janeiro a 03 de fevereiro de 2020 no Jin Yin-Tan Hospital (Wuhan, China). Ocorreu a randomização, sendo 99 pacientes no grupo do lopinavir+ritonavir+suporte e 100 pacientes no grupo de suporte apenas. O suporte inclui, conforme necessário, oxigênio suplementar, ventilação não invasiva e invasiva, antibiótico, uso de drogas vasopressoras, terapia de reposição renal e oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO). Swab de orofaringe foi coletado nos dias 1,5,10,14,21 e 28 até a alta ou o óbito, utilizando PCR quantitativo. Os pacientes foram classificados segundo uma escala de 1 a 7, sendo: 1) não hospitalizado exercendo suas atividades normais; 2) não hospitalizado mas incapaz de exercer suas atividades habituais; 3) Hospitalizado, sem necessidade de O2 suplementar; 4) Hospitalizado necessitando de O2 suplementar; 5) Hospitalizado em uso de cânula de alto fluxo, CPAP ou ambos; 6) Hospitalizado requerendo Ventilação mecânica invasiva, ECMO ou ambos; 7) Óbito. A Média de idade foi de 58 anos, variando de 49 a 68 anos e 60,3% dos pacientes eram homens. O intervalo médio desde o início dos sintomas até a randomização foi de 13 dias, variando entre 11 a 16 dias.
Considerando as manifestações clinicas da doença, 91,5% tinham febre, 70,3 % tinham contagem de leucócitos normais e 62,6% tinham linfopenia; 74,2% tinham LDH>245 U/L
Com relação ao desfecho primário, os pacientes do grupo lopinavir+ritonavir não tiveram tempo de melhora clínica (redução em 2 pontos na escala) diferente do outro grupo de pacientes, sendo ambos em 16 dias (HR 1,31; IC 95%; p=0,09), na análise por “intenção de tratar”.
Considerando-se o desfecho secundário, a mortalidade em 28 dias foi numericamente menor no grupo do lopinavir-ritonavir (19,2%) do que no grupo de cuidados de suporte (25%) uma diferença de – 5,8% (IC 95%; variando de -17,3 a 5,7). Além disso, o grupo lopinavir-ritonavir teve um menor tempo de internação no CTI (6 dias) quando comparado ao grupo de suporte (11 dias), uma diferença de -5 dias (IC 95%; variando de -9 a 0). A porcentagem de melhora clínica no dia 14 foi maior no grupo lopinavir-ritonavir (45%) do que no grupo de suporte (30%), uma diferença de 15,5% (IC95%; 2,2 a 28,8%). Não foram encontradas evidencias de que o RNA do COVID 19 estivesse em menor quantidade ou tempo no grupo do lopinavir-ritonavir em comparação ao grupo de controle. O RNA do SARS-Cov 2 foi detectado em 40,7% dos pacientes do grupo lopinavir-ritonavir no dia 28 (final do estudo).
Em conclusão, foi evidenciado que o tratamento com lopinavir-ritonavir não acelerou significativamente a melhora clínica, redução da mortalidade ou diminuição da detecção do RNA viral nos swabs de orofaringe em pacientes com Covid-19.
Limitações do Estudo
O estudo foi desenvolvido em apenas um hospital de uma cidade da China (Wuhan), o que limitou a população a ser estudada. O estudo também só considerou os pacientes com maior gravidade (Saturação de O2 < 94% ou P/F<300) o que não permitiu investigar se haveria benefício em pacientes com sintomas iniciais da infecção pelo Covid-19.
Dr André L. Martinez