Barreiras enfrentadas por pacientes no diagnóstico de Tuberculose Multirresistente no Brasil

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 21 jan 2025

Barreiras enfrentadas por pacientes no diagnóstico de Tuberculose Multirresistente no Brasil


Título do Estudo


Barreiras enfrentadas por pacientes no diagnóstico de Tuberculose Multirresistente no Brasil

 

Fonte


Marcela BheringEu,II , Margareth DalcolmoEU , Vicente Sarubbi JúniorIII , Afrânio KritskiII – RSP- Revista de Saúde Pública. 2022;56:60.

EU Fundação Oswaldo Cruz.Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro, RJ, Brasil II Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Medicina. Programa Acadêmico de Tuberculose. Rio de Janeiro, RJ, Brasil III Universidade Estatual de Mato Grosso do Sul. Faculdade de Medicina. Campo Grande, MS, Brasil

 

Objetivo


Compreender as narrativas dos pacientes sobre as barreiras enfrentadas no diagnóstico e tratamento da Tuberculose Multirresistente e suas consequências no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

 

Métodos


Trata-se de um estudo qualitativo, transversal, com amostragem não probabilística. Foi considerado o critério de saturação teórica para composição do número de entrevistados. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas de agosto a dezembro de 2019 com 31 pacientes em tratamento para Tuberculose Multirresistente em um Centro de Referência ambulatorial do Rio de Janeiro. Os dados foram transcritos e processados com auxílio do software NVIVO. As entrevistas foram avaliadas pela análise de conteúdo e suas temáticas, cruzadas com dados de caracterização dos participantes.

 

Introdução


O Brasil aparece na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos 30 países com maior carga de Tuberculose e coinfecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) no mundo. Embora o país tenha alcançado um alto nível de cobertura de tratamento (> 80%) em 2018, apenas 69,6% dos novos casos e 49,3% dos retratados foram curados. A meta é tratar com sucesso 85% de todos os casos de tuberculose. O Estado do Rio de Janeiro (RJ) se destaca por ter a maior taxa de mortalidade por tuberculose do Brasil, 4,3 por 100 mil habitantes em 2018, apesar de ser um dos seus Estados mais desenvolvidos com um IDH de 0,761, o quarto maior do país. Além disso, o município do Rio de Janeiro, capital do estado e segunda Cidade mais populosa do país com mais de 6,7 milhões de habitantes, destaca-se por ter uma incidência de 93,7 casos por 100 mil habitantes, a segunda maior entre as capitais brasileiras. Além disso, 29% de toda a Tuberculose Resistente a medicamentos no Brasil ocorre no Rio de Janeiro. Apesar do Ministério da Saúde do Brasil sugerir o teste Xpert MTB RIF (Xpert) para detectar resistência à rifampicina em casos de tuberculose, desde 2014, no Rio de Janeiro, entre os casos novos, apenas 42,5% tiveram suas amostras clínicas avaliadas pelo teste Xpert. Entre os casos de retratamento, apenas 56,8% foram submetidos a testes de sensibilidade aos medicamentos. Estes testes são essenciais para o diagnóstico precoce e o início de um tratamento eficaz para todos os pacientes com Tuberculose Resistente aos medicamentos e a subsequente prevenção da sua transmissão.

Assim, este estudo tem como objetivo compreender as narrativas dos pacientes sobre como eles ajustaram suas práticas durante o tratamento da tuberculose MDR, avaliar o percurso que eles fizeram até o diagnóstico e identificar as barreiras para o diagnóstico e tratamento da tuberculose MDR e suas consequências no estado do Rio de Janeiro.

Estudo realizado no Rio de Janeiro mostrou que 79% dos pacientes entrevistados com Tuberculose pulmonar tiveram entre duas e cinco consultas médicas antes de receber o diagnóstico correto de tuberculose. A mediana entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 68 dias.

Identificar as fontes desse atraso é uma questão crítica para o controle efetivo da tuberculose MDR. O atraso no diagnóstico da tuberculose MDR está associado a uma apresentação clínica crítica, na qual o diagnóstico segue a hospitalização devido à gravidade da condição clínica, como foi observado em sete pacientes do  estudo, e outros descritos. As falhas no tratamento são a principal hipótese para o aumento de casos resistentes aos medicamentos, mas os relatórios mostram a importância da transmissão primária da tuberculose MDR nos últimos anos. A alta proporção (64%) de tuberculose MDR primária encontrada no estudo corrobora essa evidência.

 

Resultados


Os principais achados foram: a) os participantes apresentam uma alta proporção de resistência primária aos medicamentos b) os pacientes apresentam atrasos no diagnóstico e tratamento eficaz da Tuberculose Multirresistente; c) os profissionais de saúde não valorizam ou buscam o diagnóstico da Tuberculose resistente aos medicamentos, iniciando assim o tratamento inadequado para a Tuberculose suscetível aos medicamentos d) as unidades de saúde primárias apresentam baixas taxas de notificação de busca ativa de casos e monitoramento de contatos  e) os pacientes apresentam pouco conhecimento sobre a doença.

 

Limitações


Uma das limitações deste estudo é que foram entrevistados apenas pacientes em tratamento e, portanto, não foram coletadas as opiniões daqueles fora do Serviço. Embora a amostra não seja capaz de representar as barreiras enfrentadas por todos os pacientes diagnosticados e tratados no estado do Rio de Janeiro, ela pode sugerir um ponto de partida para entender as barreiras que os pacientes enfrentam no acesso ao diagnóstico e ao tratamento eficaz da Tuberculose MDR.

 

Conclusões


Precisamos melhorar os sistemas de referência e o acesso ao diagnóstico e tratamento eficaz da Tuberculose Multirresistente; conduzir uma investigação ativa dos contatos; intensificar o treinamento dos profissionais de saúde, em colaboração com as escolas de medicina e enfermagem, tanto nos sistemas públicos quanto privados; e promover campanhas para educar a população sobre os sinais e sintomas da tuberculose.

 

Considerações Finais


Para o diagnóstico de Tuberculose ativa, o sistema público de saúde oferece testes moleculares rápidos, baciloscopia de escarro, cultura para micobactérias e teste de sensibilidade a medicamentos. Embora o teste molecular Xpert MTB/RIF esteja disponível no sistema público de saúde brasileiro desde 2014 para o diagnóstico de tuberculose ativa, atrasos no diagnóstico de tuberculose MDR foram um fator que se destacou nas narrativas dos pacientes. O atraso no diagnóstico da tuberculose MDR leva os pacientes a enfrentarem esquemas medicamentosos desnecessários que pioram seu quadro clínico e mantêm a cadeia de transmissão da doença. Embora o Estado do Rio de Janeiro tenha uma rede laboratorial capaz de diagnosticar a tuberculose MDR, isso tem sido insuficiente para acelerar o início do tratamento efetivo.

 

Drª Márcia Martin– Chefe da Pneumologia do Hospital Federal Cardoso Fontes e Secretária de Divulgação da Sopterj

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