Publicado em 18 set 2021
Cognitive deficits in people who have recovered from COVID-19
Título do Estudo
Cognitive deficits in people who have recovered from COVID-19
Fonte
Published by Elsevier Ltd. July 22, 2021 – EClinicalMedicine (2021), https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2021.101044
Introdução
Evidências crescentes sugerem que indivíduos com COVID-19 grave possam apresentar sintomas que persistem além da doença inicial, dentre estes se observam a ocorrência de queixas cognitivas como confusão mental, alterações da memória, falta de concentração, desorientação e dificuldade de encontrar as palavras certas (afasia).
No presente estudo foi adotado uma abordagem em larga escala, por meio da qual os indivíduos que se recuperaram da infecção por COVID-19 foram comparados a controles obtidos simultaneamente, também se determinando se a extensão e ou natureza do déficit cognitivo estaria relacionado à gravidade de sintomas respiratórios.
Métodos
81.337 participantes, entre janeiro e dezembro de 2020, participaram de uma avaliação online gratuita de sua capacidade cognitiva, preenchendo um questionário do Great British Intelligence Test com uma série de nove testes visando medir aspectos distintos da cognição abrangendo funções executivas, raciocínio, memória de trabalho, atenção e emoção.
Paralelamente foi aplicado um questionário capturando entre os participantes o autorrelato de suspeita e confirmação de infecção por COVID-19 e sintomas respiratórios.
Pessoas que se recuperaram de COVID-19, incluindo aquelas que não relataram mais os sintomas, exibiram déficits cognitivos significativos versus controles. Os déficits eram de tamanho de efeito substancial para pessoas que foram hospitalizadas (N = 192), mas também para casos não hospitalizados que tiveram confirmação biológica de infecção por COVID-19 (N = 326).
Resultados
De 86.285 pessoas que completaram o questionário, 81.337 indivíduos se enquadraram nos critérios de elegibilidade, e destes 12.689 indivíduos indicaram ter apresentado COVID-19, com variáveis graus de severidade em relação ao quadro respiratório.
Pessoas que receberam tratamento domiciliar apresentaram pequenos déficits de desempenho global, enquanto as hospitalizadas mostraram déficits de desempenho global escalonados substanciais, em função da severidade e necessidade de ventilação mecânica ou não.
Entre os participante 4,8% dos que estavam doentes relataram alterações cognitivas residuais. Destes, 84,1% era do grupo em que houve necessidade de ventilação mecânica, 12,2% do grupo de hospitalizados, 9,2% em tratamento domiciliar, 5,8% sem assistência médica e 3,8% sem problemas respiratórios.
Limitações do Estudo
O estudo em questão foi realizado baseado em autorrelato não havendo acesso aos prontuários clínicos dos participantes e a aspectos clínicos individuais. Não foi considerado a reserva cognitiva prévia, a ocorrência de alterações cognitivas preexistentes e fatores predisponentes para tal.
Exames laboratoriais e de imagem não foram realizados.
Conclusão
Há evidências de que COVID-19 pode causar alterações de saúde a longo prazo após sintomas agudos, denominado ‘COVID longo’. Estas análises de avaliação cognitiva detalhada e dados de questionário de dezenas de milhares de conjuntos de dados, coletados em colaboração com a BBC2 Horizon, alinham-se com a visão de que existem consequências cognitivas crônicas pós COVID-19. Os indivíduos que se recuperaram de COVID-19 apresentaram desempenho pior em testes cognitivos do que seria esperado na população geral, em vários domínios, em proporção direta com a gravidade dos sintomas e do tipo de tratamento recebido.
Esses resultados devem servir de alerta para pesquisas mais detalhadas, investigando a base dos déficits cognitivos em pessoas que sobreviveram à infecção por SARS-COV-2.
Dra Rená Simões Geraidine Clemente