Publicado em 2 maio 2020
Compassionate Use of Remdesivir for Patients with Severe Covid-19
Título do Estudo
Compassionate Use of Remdesivir for Patients with Severe Covid-19
Fonte
NEJM 2020 April 10; DOI: 10.1056/NEJMoa2007016.
Resumo
Remdesivir é uma prodroga análoga ao nucleotídeo adenosina trifosfato que inibe a polimerase do RNA viral com atividade in vitro contra o SARS-CoV-2 e eficácia contra filovirus (Ebola) e outros coronavirus (SARS-CoV e MERS-CoV) em estudos não clínicos.
Com base nessas observações, foi desenvolvido um estudo de fase 3, multicêntrico (América do Norte, Europa e Ásia insular) e de braço único em pacientes hospitalizados com sintomas de Covid-19, infecção pelo SARS-CoV-2 confirmada pela reação em cadeia da polimerase-transcriptase reversa e saturação de oxigênio de 94% ou menos respirando ar ambiente ou com suplemento de O2.
Os pacientes selecionados receberam, em uso compassivo, remdesivir venoso por 10 dias, sendo 200 mg no 1º dia e 100 mg nos seguintes. A duração média dos sintomas antes da primeira dose foi de 12 dias (9 a 15). Nenhuma outra droga em investigação para Covid 19 foi acrescentada e o seguimento foi de pelo menos 28 dias a contar do início do tratamento a não ser por morte ou alta. Toda a coleta de dados, o monitoramento da programação e as análises estatísticas foram conduzidas pela empresa patrocinadora.
No 43º dia de estudo, uma coorte de 53 doentes foi analisada. A média de idade foi 64 anos (23 a 82) e 40 (75%) eram homens. Do grupo, 34 (64%) receberam ventilação mecânica (VM) – 4 (8%), oxigenação extracorpórea – e 19 (36%) mantiveram ventilação espontânea. Embora nenhum desfecho tenha sido preestabelecido, após uma media de 18 dias de seguimento (13 a 23), 36 (68%) melhoraram significativamente a oxigenação – 25 (47%) inclusive com alta – e 7 (13%) morreram. Dos 34 em VM, 17 (50%) foram extubados e 6 (18%) morreram.
A carga viral não foi testada durante o tratamento e este não teve duração uniforme, principalmente devido a melhora do quadro e possibilidade de alta, sendo no mínimo de 5 dias.
Os eventos adversos mais frequentes foram aumento das enzimas hepáticas (23%), diarreia (9%), eritema (8%), lesão renal (8%) e hipotensão (8%), não sendo possível atribuir exclusivamente à droga a sua ocorrência.
Conclusão
Os autores concluem que estudos adicionais, randomizados, controlados, com maior duração e maior número de doentes devam ser realizados para fornecer evidências sobre a segurança e eficácia do remdesivir na Covid-19, mas que esses são os melhores dados disponíveis no momento. Adicionalmente, embora em pandemias qualquer desfecho positivo mereça atenção, nesta análise cabe considerar a heterogeneidade da amostra admitida – 34 (64%) dos doentes em VM e 12 (23%) em ar ambiente ou com O2 em baixo fluxo – e o viés de interesse da empresa patrocinadora nos resultados do uso da droga que produz.
Dr Valmir Sangalli Lucas