Publicado em 10 out 2020
COVID-19 and multisystem inflammatory syndrome in children and adolescents
Título do Estudo
COVID-19 and multisystem inflammatory syndrome in children and adolescents
Fonte
Li Jiang, Kun Tang, Mike Levin, et al. COVID-19 and multisystem inflammatory syndrome in children and adolescents. www.thelancet.com/infection Published on line August1, 2020. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30651-4.
Desenho do Estudo
Os autores revisaram a epidemiologia, as possíveis causas, as características clínicas e os protocolos de tratamento para síndrome inflamatória multissistêmica em crianças e adolescentes associados a COVID-19. Também discutiram os mecanismos fisiopatológicos relacionados aos processos inflamatórios induzidos pelo coronavírus SarS-CoV-2, que podem levar a danos em vários órgãos nos pacientes pediátricos. Esses estudos fornecem evidências para a necessidade de desenvolver um protocolo claro de definição de casos e de tratamento para essa nova condição e também especulam sobre futuras intervenções terapêuticas e o potencial para o desenvolvimento de vacinas.
Mensagens do Artigo
1- Embora, na faixa etária pediátrica, as infecções pelo coronavírus SARS-CoV-2 sejam geralmente leves e de baixa letalidade, há uma incidência crescente de uma síndrome inflamatória multissistêmica até o momento associada ao SARS-CoV-2, também conhecida como MIS-C, que pode levar a doenças graves e possíveis efeitos colaterais a longo prazo.
2- As características clínicas e laboratoriais da MIS-C são semelhantes às da doença de Kawasaki, síndrome do choque da doença de Kawasaki e síndrome do choque tóxico, mas o quadro tem algumas características distintas e ainda necessita de uma definição clínica e fisiopatológica clara.
3- A MIS-C pode ser distinta da doença de Kawasaki, com características que incluem a idade de início maior do que 7 anos, uma maior proporção de crianças afrodescendentes ou hispânicas afetadas e o envolvimento cardiovascular difuso sugestivo de uma doença generalizada imunomediada.
4- A fisiopatologia da MIS-C ainda não está esclarecida e possíveis mecanismos incluem a formação de autoanticorpos, a reação de anticorpos ou linfócitos T a antígenos virais expressos em células infectadas, a formação de imunocomplexos que ativam a inflamação e a presença de superantígenos virais que ativam células imunes do hospedeiro.
5- A maioria dos casos dos casos de MIS-C associada ao COVID-19 foram elaborados seguindo-se os protocolos padronizados para a doença de Kawasaki, com agentes inotrópicos ou vasoativos, frequentemente utilizados em pacientes com disfunção cardíaca e hipotensão, e anticoagulação. Pesquisas clínicas são necessárias para demonstrar a eficácia e segurança desses tratamentos.
6- Os resultados de médio a longo prazo da MIS-C, como as sequelas da formação de aneurismas das artérias coronárias, permanecem desconhecidos e o acompanhamento dos pacientes é importante.
Limitações do Estudo
1- Como o SARS-CoV-2 é um vírus novo, apenas poucas evidências científicas estão disponíveis para a total compreensão da sua associação com a MIS-C.
2- A incidência global e populacional específica da MIS-C permanece desconhecida, assim como a causa e a patogênese da doença. Existem evidências, ainda não totalmente estabelecidas, de que o desenvolvimento da MIS-C possa estar associado a uma reação imunológica pós-viral ao COVID-19.
3- Embora com carasterísticas em comum, existem dúvidas se a fisiopatologia do MIS-C difere da doença de Kawasaki, da síndrome do choque da doença de Kawasaki, da síndrome do choque tóxico e da síndrome de ativação macrofágica. Fatores genéticos são reconhecidos para a suscetibilidade para a doença de Kawasaki, mas não se sabe se os mesmos ou diferentes fatores genéticos influenciam a MIS-C. Ensaios clínicos são necessários para o estabelecimento do tratamento ideal para redução dos processos inflamatórios e para a prevenção de aneurismas das artérias coronárias.
4- Estudos futuros sobre a fisiopatologia e os mecanismos da resposta imune da MIS-C poderão auxiliar no desenvolvimento de vacinas anti-SARS-CoV-2 seguras e eficazes para uso em pediatria.
5- Finalmente, com o pequeno número de casos globalmente, é vital estabelecer uma colaboração internacional de pesquisa para condução de estudos de forma coordenada e eficaz.
Dra Ana Alice Parente