Publicado em 7 jan 2023
Covid: variante XBB.1.5 é a mais transmissível já identificada, diz OMS
Epidemiologista-chefe da organização afirmou esperar novas ondas de infecção pela sublinhagem, porém destacou que não há indicativo de que ela provoque quadros mais graves da doença.
Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, a epidemiologista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, afirmou que a subvariante da Ômicron XBB.1.5 é a versão mais transmissível da Covid-19 identificada até agora. A linhagem já foi registrada em 29 países, porém pode estar circulando em mais lugares sem ter sido detectada devido à redução no sequenciamento de amostras do novo coronavírus, alerta a especialista.
— É a subvariante mais transmissível já detectada até agora. A razão para isso são as mutações que estão dentro dessa subvariante da Ômicron, permitindo a esse vírus aderir à célula e se replicar facilmente. Estamos preocupados com a sua vantagem de crescimento, em particular em países europeus e nos Estados Unidos — disse.
Maria diz que não há dados ainda sobre a severidade da subvariante, porém destaca que não há indicativo de que ela provoque quadros mais graves da doença do que outras sublinhagens da Ômicron que têm circulado, como a BQ.1, prevalente hoje no Brasil segundo o último relatório do Instituto Todos pela Saúde (ITPs).
— Ela (XBB.1.5) está rapidamente substituindo outras subvariantes em alguns países. Nossa preocupação é com o quão transmissível ela é. Ela tem um escape imunológico como vimos com a XBB (linhagem semelhante), mas é (somente) mais uma das subvariantes da Ômicron em circulação. Quanto mais esse vírus circular, mais oportunidades ele terá de mudar. Esperamos novas ondas de infecção em todo o mundo, mas isso não precisa se traduzir em novas ondas de morte porque há medidas que continuam a funcionar — acrescentou a epidemiologista.
Também ontem, o Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução de Vírus da OMS (TAG – VE) publicou um comunicado em que afirma estar “avaliando a proporção crescente de XBB.1.5 nos Estados Unidos e em outros países” e que uma “avaliação de risco atualizada” sobre a subvariante está em andamento.
O grupo reuniu-se na terça-feira para abordar também a situação sanitária na China, que vive uma explosão de novos casos da doença. Lá, porém, as amostras do coronavírus sequenciadas identificaram a predominância de outras linhagens da Ômicron já conhecidas, as BA.5.2 e BF.7.
O que se sabe sobre a XBB.1.5?
A sublinhagem tem chamado atenção especialmente pelo crescimento acelerado nos Estados Unidos. De acordo com a última atualização do monitoramento realizado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC), 40,5% dos casos de Covid-19 atualmente são provocados pela XBB.1.5. No início de dezembro, o percentual era de apenas 1,3%. No mesmo período, as versões BQ.1 e BQ.1.1 da Ômicron caíram de mais de 55% dos casos sequenciados para cerca de 45%.
A XBB.1.5 foi identificada pela primeira vez nos EUA, mas é uma derivada da XBB, subvariante que provocou uma alta de casos em setembro do ano passado em Cingapura e na Índia, e já foi registrada no Brasil. A sublinhagem é resultado de uma combinação de outras versões da Ômicron BA.2, por isso é chamada também de recombinante.
Ela cresceu e se tornou predominante nos dois países asiáticos ao mesmo tempo em que a BQ.1 crescia em outros lugares, como os EUA e o Brasil. Isso porque ambas surgiram em períodos semelhantes e apresentam mutações que aumentam o seu potencial de escapar dos anticorpos conferidos pela infecção prévia e pelas vacinas, e consequentemente de provocar casos de reinfecção.
Um estudo de dezembro, publicado na revista científica Cell por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em laboratório, mostrou que essas duas versões da Ômicron (BQ e XBB) são as com maior escape imune identificado até o momento, com a XBB tendo uma resistência maior às defesas, até 49 vezes superior à da linhagem BA.5, que predominou durante boa parte de 2022.
— Essa vantagem está muito relacionada a uma mutação na Spike (proteína que o vírus utiliza para infectar a célula) que aumenta o escape dos anticorpos. Esse escape já foi observado em outras linhagens, mas isso não quer dizer necessariamente que não tenha proteção clínica (contra desfechos graves da Covid). Mas isso pode dar uma vantagem evolutiva para o vírus continuar a se disseminar, o que provavelmente está acontecendo — explicou o coordenador da Rede Corona-Ômica BR – MCTI , monitoramento nacional de amostras do vírus da Covid-19, Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, ao GLOBO recentemente.
Isso porque a proteção contra casos graves envolve também as células de defesa, uma parte mais robusta da resposta imunológica que vai além dos anticorpos. Além disso, um outro estudo, do periódico New England Journal of Medicine, mostra que pessoas vacinadas com a nova geração de imunizantes, chamados de bivalentes por contarem com uma parte da Ômicron em sua formulação, apresentaram uma melhor resposta imunológica à XBB – ainda que a versão da variante utilizada na dose seja da BA5.
— Por enquanto, temos observado que a proteção clínica continua adequada com as vacinas atuais, com menos casos severos mesmo com essa variante XBB envolvida. No contexto atual, não só para ela, como para a BQ.1, é importante que tenhamos o advento das vacinas bivalentes, que contam com uma parte mais similar a essas novas versões do vírus — diz Spilki.
Ele destaca que a emergência das novas sublinhagens está ligada à alta circulação do coronavírus, e que demanda um monitoramento das autoridades de saúde para que se compreenda até que ponto essas novas versões podem aumentar também os casos graves da doença e quais são mais resistentes aos tratamentos disponíveis hoje, como os antivirais.
— Ao mesmo tempo em que estamos num processo de endemização, onde provavelmente não teremos mais para frente o mesmo nível de surtos dos anos anteriores, fica ainda como desafio observar esse alto número de infecções, como está ocorrendo na China, e possíveis variantes que possam provocar novas ondas no médio e longo prazo — afirma.
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