Publicado em 25 fev 2023
Long-term respiratory outcomes after COVID-19: a Brazilian cohort study
Título do Estudo
Long-term respiratory outcomes after COVID-19: a Brazilian cohort study
Fonte
Visconti, N. R. G. D. R., Cailleaux-Cezar, M., Capone, D., Santos, M. I. V. D., Graça, N. P., Loivos, L. P. P., … & Queiroz Mello, F. C. D. (2022). Long-term respiratory outcomes after COVID-19: a Brazilian cohort study. Rev Panam Salud Publica; 46, nov. 2022.
Introdução
As características clínicas, patogênese e complicações da fase aguda da COVID-19 foram amplamente estudadas. As consequências a longo prazo da doença, no entanto, ainda estão em investigação e são motivo de crescente preocupação. As complicações a longo prazo e seu impacto a nível individual, de saúde pública e em aspectos econômicos em nosso país ainda devem ser esclarecidas.
O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de sintomas persistentes e seus fatores de risco em uma coorte brasileira de sobreviventes da COVID-19, até 12 meses após a alta hospitalar.
Métodos
Estudo prospectivo de coorte realizado no Instituto de Doenças do Tórax (IDT) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pacientes que foram internados no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) entre Março e Janeiro de 2021 por COVID-19 foram elegíveis para acompanhamento no Ambulatório Pós-COVID-19. Foram realizadas consultas médicas com avaliação sistemática de sintomas dois, seis e doze meses após a alta hospitalar. Provas de função respiratória compostas por oscilometria de impulso (IOS), espirometria, medida da capacidade de difusão do monóxido de carbono (DLCO) e pletismografia corporal e tomografia computadorizada (TC) do tórax foram realizadas aos dois meses e repetidas caso houvesse alterações aos seis e doze meses após a alta.
Os desfechos principais foram os sintomas, escore de dispneia mMRC, status de trabalho e limitação às atividades diárias em sobreviventes da COVID-19 dois, seis e doze meses após a alta hospitalar. Fatores de risco foram investigados para os sintomas mais prevalentes e para limitação às atividades diárias em análises uni e multivariadas. Os desfechos secundários foram os distúrbios funcionais respiratórios e anormalidades tomográficas presentes dois meses após a alta e seus comportamentos ao longo do tempo.
Resultados
Foram incluídos 88 pacientes. A idade mediana foi de 60,5 anos, 52,3% eram do sexo feminino e 93,2% dos pacientes apresentavam ao menos uma comorbidade. A maioria dos pacientes havia apresentado a forma grave (58%) da COVID-19; 75% necessitaram de suplementação de oxigênio e 17% de ventilação mecânica durante a fase aguda.
Dois meses após a alta, os principais sintomas descritos foram dispneia (54,5%), fadiga (50%), mialgia (46,6%) e fraqueza muscular (46,6%) e, ao longo de um ano, houve redução significativa na prevalência destes sintomas. Sintomas de ansiedade foram relatados em 46,6% dos pacientes na avaliação de dois meses e não houve redução durante o acompanhamento. A prevalência de tosse aumentou de 25% aos dois meses para 35,2% um ano após a COVID-19. Limitações às atividades diárias foram reportadas por 69,3% aos dois meses e 43,2% dos pacientes aos doze meses. Um ano após a alta, 17,6% dos pacientes não haviam retornado ao trabalho.
Os principais distúrbios funcionais respiratórios identificados foram redução da capacidade de difusão (34,9%) e doença de pequenas vias aéreas avaliada pelo IOS (30,3%). Dentre os pacientes com redução da DLCO, 71% normalizaram o exame ao longo de um ano e dentre os pacientes com doença de pequenas vias, 62% normalizaram. Dois meses após a alta, apenas 26% dos pacientes apresentaram resolução completa das alterações tomográficas.
Em análises multivariadas, idade (OR 0,92; IC95% [0,86-0,99]), uso de corticoide sistêmico na fase aguda (OR 6,61; IC95% [1,34-32,68]) e espessamento brônquico na TC da admissão (OR 7,57; IC95% [1,46-39,26]) foram fatores de risco significativos para dispneia e sexo feminino (OR 2,44; IC95% [0,86-6,91]) teve significância marginal para fadiga um ano pós-COVID-19. O uso de corticoide na fase aguda também foi fator de risco para limitação às atividades diárias (OR 4,39; IC95% [1,42-13,64]).
Conclusões
Foi demonstrado que mais de um terço dos pacientes persistem com sintomas relacionados à COVID-19 e alguma limitação às atividades diárias até um ano após a hospitalização, independente da gravidade da fase aguda da doença. As principais alterações funcionais respiratórias observadas foram redução da difusão e disfunção de pequenas vias aéreas que demonstraram potencial significativo de reversão ao longo do tempo.
Os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se criar serviços preparados para receber um grande número de pacientes com sintomas persistentes pós-COVID-19 com a capacidade de realizar atendimento multidisciplinar a longo prazo a fim de mitigar os impactos individuais e socioeconômicos da pandemia.
Limitações
Os pacientes incluídos no estudo representam um perfil de hospital terciário, com alta prevalência de comorbidades e apresentação grave da fase aguda da doença, podendo não ser possível generalizar os resultados para a população geral.
Além disso, um viés de seleção pode ter ocorrido, uma vez que pacientes mais sintomáticos ou que apresentaram formas mais graves da COVID-19 podem ter sido mais propensos a comparecer ao Ambulatório Pós-COVID-19. Por último, as restrições de circulação e medo de contaminação no contexto do início da pandemia levaram a uma alta taxa de perdas de seguimento.
Dra. Nina Visconti – médica pneumologista do Instituto de Doenças do Tórax- UFRJ e do LPH – Laboratório de Performance Humana