Publicado em 3 fev 2024
Longitudinal effects of elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor on sputum viscoelastic properties, airway infection and inflammation in patients with cystic fibrosis
Título do Estudo
Longitudinal effects of elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor on sputum viscoelastic properties, airway infection and inflammation in patients with cystic fibrosis
Fonte
https://erj.ersjournals.com/content/62/2/2301008
Introdução
A disfunção da proteína reguladora de condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR) leva às anormalidades nas propriedades viscoelásticas do muco, prejuízo da depuração mucociliar e obstrução do fluxo aéreo; causando inflamação e infecção crônica, que são as principais causas do início e progressão do dano pulmonar estrutural em pacientes com fibrose cística (FC).
A terapia com moduladores do CFTR elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (ETI) mostrou melhorias na função pulmonar e outros desfechos clínicos relacionadas ao resgate da função da proteína CFTR. No entanto, os efeitos da ETI nas anormalidades do escarro em pacientes com FC não foram estudadas, e os dados dos efeitos no microbioma pulmonar são limitados.
Objetivo
Avaliar os efeitos longitudinais da terapia tripla moduladora do CFTR (ETI)nas propriedades viscoelásticas do escarro, inflamação e infecção crônica das vias aéreas dos pacientes com FC com pelo menos um alelo F508deldurante os primeiros 12 meses de terapia.
Métodos
Foi realizado um estudo observacional prospectivo com 79 pacientes com pelo menos um alelo F508del. Foram investigadas propriedades reológicas, microbiológicas e marcadores inflamatórios implicados na progressão da doença pulmonar em amostras de escarro no início da terapia e 1, 3 e 12 meses após o início da terapia com ETI. O estado saudável foi determinado baseado no escarro de 10 indivíduos hígidos de mesma idade.
Resultados
Esse estudo mostrou que há uma melhora nas propriedades viscoelásticas com redução dos módulos elásticos e viscosos do escarro de pacientes com FC a partir de 3 meses de uso do ETI. O início da ETI levou a uma mudança rápida e sustentada da composição do microbioma com redução da dominância e carga bacteriana de Pseudomonas aeruginosa, e aumento da diversidade microbiológica tendendo a um equilíbrio próximo indivíduo saudável. A análise do proteoma do escarro de pacientes com FC demonstraram que as concentrações de marcadores inflamatórios, como IL-1β, IL-8 e TNF-α, foram deslocados para valores próximos dos controles saudáveis. No entanto, ainda permanecem anormais em pacientes com FC durante os primeiros 12 meses de terapia com ETI.
Discussões
Os dados demonstram que a restauração da função da proteína CFTR pela ETI melhora as propriedades viscoelásticas do escarro, inflamação e infecção crônica das vias aéreas dos pacientes com FC com pelo menos um alelo F508del durante primeiros 12 meses de terapia; no entanto, níveis próximos do saudável não foram alcançados.
Limitações
A análise do microbioma através metagenômica ao invés de sequenciamento de RNA, possibilitaria detecção de diversidade microbiológica mais ampla. Indivíduos saudáveis e aqueles com FC em uso de terapia ETI tendem a não ter escarro, logo a indução do escarro pode alterar a reologia do muco. Heterogeneidade clínica e funcional dos pacientes com FC envolvidos possivelmente influenciou nos resultados obtidos no estudo. A análise dos dados poderia ter sido estratificada por grupos com diferente função pulmonar.
Mensagem do artigo
A terapia ETI tem efeitos rápidos, inéditos e estáveis nas propriedades viscoelásticas, inflamatórias e microbiológicas do escarro, o que explica a melhora da função pulmonar e redução de exacerbações infecciosas após o início do tratamento. Apesar destes ganhos, as alterações relacionadas ao dano pulmonar estrutural avançado causadas pela disfunção da proteína CFTR, não tornam reologia pulmonar como a do indivíduo saudável, o que indica que que terapêuticas adicionais à terapia ETI são necessárias para controle da inflamação e infecção crônica em pacientes com FC e doença pulmonar avançada.
Raphael Jaber é pneumologista, médico do serviço de Pneumologia da UERJ