Médicos brasileiros protestam contra eventos negacionistas

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 10 dez 2021

Médicos brasileiros protestam contra eventos negacionistas


Academia Nacional de Medicina alerta para risco da divulgação de informações falsas sobre vacinas contra Covid-19 e pandemia.

A Academia Nacional de Medicina (ANM), máxima instituição científica dos médicos do Brasil, alerta para os riscos para o combate da pandemia da Covid-19 trazidos por negacionistas que promovem eventos para divulgar informações falsas sobre supostos efeitos colaterais das vacinas e contestar a necessidade de passaporte de vacinação. O mais recente deles acontece nesta quinta-feira no Clube Militar do Rio de Janeiro.

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O acadêmico Carlos Alberto Barros Franco, um dos primeiros médicos a tratar de Covid-19 no Brasil e um dos pneumologistas mais respeitados do país, explica que eventos assim semeiam dúvidas sem fundamento.

— Não temos viés político. Nossa posição se baseia em ciência.  A vacinação contra a Covid-19 é segura, a melhor que já se desenvolveu. E não existe nada na história da medicina mais importante do que as vacinas. Isso é fato comprovado. Semear a desconfiança no povo difundindo riscos que não existem é inaceitável — afirma Barros Franco.

Ele destaca que existem três certezas baseadas em ciência. A primeira é sobre a segurança e a eficiência das vacinas. A segunda é a necessidade de todos os brasileiros completarem a segunda dose e receberem o reforço. A terceira, a urgência da obrigatoriedade do passaporte de vacinação.

— Defender o passaporte de vacinação é dever de toda pessoa séria, correta e honesta. É urgente que o Brasil siga princípios de segurança sanitária internacionais. Permitir a entrada de uma pessoa sem passaporte vacinal é o mesmo que deixar gente sem passaporte de identidade entrar aqui, um perigo para a segurança nacional. Não exigir o passaporte vacinal contraria as evidências científicas e o bom senso — frisa o pneumologista.

 

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Barros Franco destaca que os negacionistas de hoje têm o mesmo discurso que usavam há 117 anos os incitadores da Revolta da Vacina. Na época, diziam que a vacina da varíola causaria doenças e passaria alterações para seus filhos.
—Pelo bem dos brasileiros, foram derrotados por Oswaldo Cruz e pela vacina da varíola, que controlou a doença e salvou milhões de vidas. Esse discurso negacionista e alarmista não é apenas antiquado, é ignorância tentar ressuscitar falsidades sepultadas pelos fatos — ressalta Barros Franco.

O presidente da ANM, Rubens Belfort Jr., professor titular da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, enfatiza que para a saúde dos brasileiros e da economia nada é mais importante do que a ampliação da vacinação.

—Todas as dúvidas foram desmoralizadas pelo tempo. Existe experiência acumulada de que as vacinas são seguras e eficientes. Ninguém virou jacaré, teve chip implantado ou sofremos surtos de efeitos colaterais em qualquer faixa etária. Ao contrário, vemos a redução de casos de Covid-19 à medida que a vacinação avança — diz o presidente da ANM.

Belfort Jr. observa que nos lugares onde a vacinação é ampla, a vida melhorou. Onde não foi bem feita, caso de alguns estados americanos e países europeus, a Covid-19 voltou a crescer. Ele classifica eventos como o do Clube Militar como uma vergonha.

— Trata-se de um discurso baseado em ficção e distorções, que se resume a um amontoado de mentiras sem base na realidade. Seria patético se não fosse uma ameaça não apenas à saúde, mas à economia do Brasil. O negacionismo tem nos custado caro, trazido risco de lockdowns. Quem é contra a vacina é contra a saúde, a educação e a economia.  E a favor do vírus, do desemprego e da fome. Negacionistas perpetuam a pandemia e o atraso — afirma o presidente da ANM.

Ele adverte que é preciso investir muito em ciência para controlar e se recuperar da pandemia, mas o Brasil tem caminhado na direção contrária, levado pela exploração política demagógica.

— Faz muita falta uma atitude sensata do governo federal nesta pandemia. Se a economia está ruim é culpa do vírus e do governo federal que poderia ter vacinado antes e exigido controle rígido de vacinação, com o amplo uso do passaporte vacinal. O Brasil tem que ser o líder da vacinação completa e não o país dos sem passaporte de vacinação — acrescenta Belfort Jr.

Ela lembra que a ciência acertou tudo até agora na pandemia. Acertou ao defender as medidas não farmacológicas e ao desenvolver as vacinas. Também encontrou formas eficientes de tratar a Covid-19.

— O que atrapalhou o combate da pandemia foi a histeria dos falsos tratamentos de cloroquina e kit covid, a sandice do “sou imune”. Agora, temos a tentativa de espalhar o temor de falsos efeitos colaterais e de semear dúvidas sobre eficácia de vacinas, além da rejeição do passaporte de vacinação. Tudo isso só traz atraso, custa vidas de brasileiros, seja pela Covid-19 seja pelos prejuízos causados à economia pelo prolongamento da pandemia — sublinha o presidente da ANM.

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