Publicado em 6 maio 2023
Obstructive sleep apnoea and 5-year cognitive decline in the elderly
Título do Estudo
Obstructive sleep apnoea and 5-year cognitive decline in the elderly
Fonte
Eur Respir J 2023; 61: 2201621 – https://erj.ersjournals.com/content/61/4/2201621
Objetivos
Determinar associações entre apnéia obstrutiva do sono (AOS) e declínio cognitivo ao longo de 5 anos em uma amostra de idosos. Também avaliados efeitos da idade, sexo e presença de ApoE4* na associação entre AOS e alterações cognitivas.
Métodos
Utilizando dados do estudo HypnoLaus**, foram analisados 358 indivíduos sem demência, acima de 65 anos (média 71 anos). O intervalo de seguimento foi de 5 anos.
Em todos participantes realizaram-se:
– no primeiro seguimento: polissonografia domiciliar, avaliação cognitiva
– no segundo seguimento: avaliação cognitiva
A avaliação cognitiva englobou: Mini-Mental State Examination (MMSE; função cognitiva global), teste Stroop versão Victoria (velocidade de processamento e função executiva), tarefas de fluência verbal, teste de lembrança seletiva livre e com pistas (FCSRT; memória verbal episódica), teste de nomeação 40-DO (linguagem) e tarefa de práxis construtiva do Consortium to Establish a Registry for Alzheimer’s Disease (CERAD).
Desfecho primário: mudança anual nos escores cognitivos.
Desfecho secundário: incidência de declínio cognitivo significativo, definido como uma diminuição no desempenho de >1,0 desvio padrão acima da variação anual média.
Resultados
Indivíduos com índice de apnéia (IAH) a partir de 15 eventos por hora (logo, apnéia moderada ou grave) tinham maior prevalência de hipertensão, diabetes, IMC maior, tabagismo ativo, consumo de álcool, maior índice de sonolência.
O grupo IAH ⩾15 eventos/h foi mais propenso a ter pior desempenho no MMSE, teste Stroop 2 e FCSRT na avaliação basal.
Discussão
O IAH e os índices de hipoxemia noturna (mas não os de fragmentação do sono) foram associados a um declínio cognitivo mais acentuado ao longo de 5 anos, em especial nos participantes mais velhos, homens e portadores de ApoE4. Esse declínio foi observado na função cognitiva global, velocidade de processamento, função executiva e memória verbal episódica, mas não na linguagem ou na função visuoespacial.
As médias de SatO2 e TST90 (tempo de sono com Sat<90%) foram mais relacionados a alterações no funcionamento cognitivo.
Já fora demonstrado que a AOS e a hipoxemia noturna estão associadas a lesões frontais da substância branca e mudanças morfométricas nos núcleos cinzentos profundos. Um baixo desempenho de recordação livre associado a uma normal recordação total sugere reduzida recuperação de memória (que depende do lobo frontal).
*A presença de alelos da apolipoproteína E4 (ApoE4) amplia o risco genético do desenvolvimento de Alzheimer.
**HypnoLaus foi um estudo de coorte, para avaliar prevalência de distúrbios respiratórios do sono, conduzido na Suíça, entre 2009 e 2013, com 2.121 de seus participantes submetidos a polissonografia. Investigou-se também associações a comorbidades cardiovasculares, metabólicas e psiquiátricas.
Limitações
– A polissonografia domiciliar empregada, apesar de não poder ser classificada como tipo 2, contava com registro de eletroencefalograma (EEG), possibilitando estagiamento do sono e assim evitando hipodiagnóstico do índice de apnéia.
– Apesar da variabilidade noite a noite dos parâmetros de sono, usualmente o diagnóstico destes distúrbios se baseia em exame único.
– Fatores confundidores: grau de escolaridade, consumo de álcool, grau de sonolência diurna, uso de medicações com ação no sistema nervoso central (SNE)
Dr. Gunther Kissmann