Segurança de terapias biológicas para asma grave: uma análise de reações adversas suspeitas notificadas pela OMS – Banco de Dados de Farmacovigilância

Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro

Profissionais de Saúde

Publicado em 3 jun 2024

Segurança de terapias biológicas para asma grave: uma análise de reações adversas suspeitas notificadas pela OMS – Banco de Dados de Farmacovigilância


Título do Estudo


Segurança de terapias biológicas para asma grave: uma análise de reações adversas suspeitas notificadas pela OMS – Banco de Dados de Farmacovigilância

 

Fonte


Cutroneo P, Arzenton E, Furci F, et al. Safety of Biological Therapies for Severe Asthma: An Analysis of Suspected Adverse Reactions Reported in the WHO Pharmacovigilance Database BioDrugs. 2024 May;38(3):425-448.  doi: 10.1007/s40259-024-00653-6. Epub 2024 Mar 15.

 

Introdução


Os imunobiológicos na asma grave representaram uma revolução no manejo desta doença. A asma não controlada é associada a altas taxas de exacerbação e dependência a corticosteróides.

Atualmente os imunobiológicos disponíveis atuam sobre o fenótipo Th2/eosinofílico melhorando a qualidade de vida dos pacientes com asma grave, visando o controle da doença e reduzindo a dependência de esteróides orais. Visam pontos-chave da inflamação tipo 2, incluindo imunoglobulina E (IgE) (omalizumabe), interleucina 5 (IL-5) (mepolizumabe, reslizumabe) ou seu receptor (benralizumabe), linfopoietina estromal tímica (TSLP) (tezepelumabe) e subunidade alfa do receptor de interleucina 4 (IL4rα) (dupilumabe), que bloqueia cascatas de sinalização induzidas por IL-4 e IL-13.

Considerando que os imunobiológicos são cada vez mais utilizados na prática clínica, se faz necessário conhecer melhor a segurança desses medicamentos especialmente no uso a longo prazo e eventos adversos. O objetivo deste estudo foi avaliar a pós-comercialização de produtos biológicos quando usados em pacientes com asma grave usando o VigiBase, o banco de dados global de farmacovigilância da OMS.

Métodos


O VigiBase é a base global de dados de farmacovigilância da OMS dos relatórios de segurança de casos individuais (RSCI), gerenciados pelo Centro de Monitoramento de Uppsala na Suécia.

Omalizumabe, mepolizumabe, reslizumabe, benralizumabe e dupilumabe foram os medicamentos do estudo. Foram selecionados todos todos os RSCIs atribuídos aos medicamentos em estudo no VigiBase, até 31 de agosto de 2022. Análises descritivas da frequência de RSCIs em que os imunobiológicos selecionados foram relatados como medicamentos suspeitos quanto à indicações terapêuticas da prescrição. Em particular, distribuição por idade e sexo dos pacientes afetados por eventos adversos relacionados aos imunobiológicos, frequência de gravidade, tendência temporal nas notificações, diferentes tipos de notificações e os resultados foram todos examinados. Um teste qui-quadrado foi realizado para comparar variáveis categóricas. Um valor p <0,05 denota a significância estatística.

 

Resultados


Até 31 de agosto de 2022, os RSCIs foram coletados. Dupilumabe foi indicado como medicamento suspeito em 101.297 (60,5%) notificações, seguido por omalizumabe (n=44.043; 26,3%), mepolizumabe (n=13.909; 8,3%), benralizumabe (n=7.853; 4,7%) e reslizumabe (n=475; 0,3%). Estratificando todos os RSCIs relacionados aos imunobiológicos (n = 167.282) por indicação terapêutica, cerca de 34% dos relatórios estavam relacionados a dermatite atópica (n=56.682), 29,4% (n=48.440) na asma, 7% na urticária (n=11.495) e 3% na rinossinusite crônica com pólipos nasais (n=4.673).

A distribuição etária dos RSCIs apresenta pequenas variações; dupilumabe e omalizumabe foram associados a taxas mais altas de ICSRs em adolescentes (com idade 12–17 anos). Reações anafiláticas foram observados para omalizumabe (N = 808, 3,9%), bem como para mepolizumabe (N = 82, 0,9%), benralizumabe (N = 79, 1,4%) e reslizumabe (N = 6, 2,7%).

Notificação aos imunobiológicos para a asma também foi associada a vários eventos inesperados ou menos documentados, tais como malignidades, embolia pulmonar e trombose venosa profunda, sarcoidose, aumento da pressão arterial, herpes zoster e eritema nodoso com omalizumabe; alopecia e líquen plano com dupilumabe; alopecia, polimialgia reumática e infecções por herpes com mepolizumabe; alopecia, herpes zoster e GEPA relacionados ao benralizumabe; e alopecia com reslizumabe. A maioria dos casos de alopecia induzida por produtos biológicos envolveu mulheres e pacientes adultos.

 

Conclusões


Este estudo encontrou bons perfis de segurança dos imunobiológicos usados em pacientes com asma grave. Além disso, confirmou efeitos colaterais bem conhecidos relacionados aos produtos biológicos para asma já descritos, como distúrbios gerais, alterações no local da injeção, reações adversas, nasofaringite, cefaleia e hipersensibilidade, enquanto algumas outras (por exemplo, reativação da asma ou falha terapêutica) podem ser atribuídas à indicação de uso.

Em relação às reações anafiláticas, todos os imunobiológicos do estudo, exceto dupilumabe, mostraram sinais positivos; este risco está provavelmente relacionado com a imunogenicidade propriedades do componente proteico dos anticorpos monoclonais.

Estudos adicionais são necessários para avaliar e validar potenciais sinais de segurança.

 

Limitações e mensagens do artigo


Os dados estão sujeitos a subnotificação, reportagem seletiva e a falta de um denominador, tudo isso impede a medição do risco absoluto de suspeita de eventos adversos. Poucos RSCIs no VigiBase fornecem o desejado nível de qualidade da informação. Foram excluídos relatórios com indicação faltante, mesmo. As notificações de suspeitas de reações adversas foram muitas vezes incompletas para avaliar causalidade devido à indisponibilidade de detalhes clínicos e relatórios incompletos sobre idade, dosagem do medicamento, tempo de início, comorbidades e medicações de uso concomitante, limitando assim a avaliação caso a caso.

 

Alícia Sales Carneiro é médica no serviço de Pneumologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ.

 

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